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Um blog de colegas da UTAD que escrevem sobre as Ciências do Desporto

Abordagem Estrutural e Estratégica do Sistema Defensivo 3:2:1 no Andebol

Introdução

A apresentação deste trabalho deveu-se implicitamente, para melhorar a compreensão da complexidade deste sistema defensivo (3:2:1), uma vez que é o sistema defensivo principal adotado pelos escalões de formação dos quais sou responsável (iniciados e juvenis do Andebol Club de Lamego),de aprofundar conhecimentos, para compreender melhor toda a sua complexidade.

Um sistema defensivo denomina-se pela sua disposição no campo, mas o mais importante é o seu funcionamento, sobretudo os detalhes que derivam das constantes modificações dos espaços, em relação à situação da bola, dos adversários, assim como das relações que se produzem entre companheiros em relação aos adversários…Aspetos que tratarei neste documento com as características únicas que identificam o sistema defensivo 3:2:1, Antón., J (2002).

Duma perspetiva geral, a definição de sistema, é “um conjunto de elementos interconectados, de modo a formar um todo organizado”, ou um conjunto de elementos organizados de tal forma que se completam para realizar um objetivo. Transpondo este conceito para a área dos desportos coletivos, Teodorescu (1980) define sistema como a forma geral de organização de uma equipa (quer no ataque como na defesa) para estabelecer um mecanismo de distribuição de tarefas, especificando que posteriormente um sistema pode evoluir durante um jogo.

Os sistemas defensivos são baseados em estruturas geométricas simples, linhas, triângulos, etc., que constituem o princípio geral de funcionamento de equipa, baseados nas potencialidades de cada jogador (capacidades antropométricas, físicas, técnico-táticas), sendo influenciadas pelos meios táticos grupais e coletivos. Cada posto especifico tem a sua técnica específica que requer uma motricidade especializada variando consoante o espaço e o momento do jogo. Para concretizar a sua aprendizagem e treino, é preciso conhecer todos os elementos desde o ponto de vista conceptual, real, e todos os momentos e fases de aprendizagem (inicial, aperfeiçoamento) assim como a sua utilização do ponto de vista estratégico.

A denominação é atribuída ao facto da disposição inicial ser de três linhas defensivas distintas pelas diferentes tarefas que realizam cada grupo de jogadores, mas o que realmente define a atividade são as inter-relações que se geram entre os diferentes jogadores que intervêm no processo que representa este modelo coletivo defensivo.

Este documento pretende considerar aspetos da estrutura global do sistema assim como as diferentes interações das frações de conexão que o compõem. Para isso dividi o texto em dois capítulos, mas de forma detalhada mostro objetivos, características, particularidades e dificuldades deste sistema defensivo.

O primeiro capítulo identifica os conceitos do sistema, princípios, objetivos, características principais, assim como as características estruturais básicas. O segundo capítulo refere o funcionamento prático, as dimensões espaciais de cada posto específico, e as diferentes ações técnico-táticas individuais, assim como as tarefas específicas e responsabilidades de cada jogador.

Para finalizar este trabalho, apresento as vantagens e desvantagens da utilização deste sistema defensivo.

1. Capítulo Estrutura e Caracterização Geral do sistema defensivo 3:2:1

1.1. Origem e Evolução

Segundo ANTON., J. (2006) o sistema 3:2:1, teve origem na cidade Croata de Zagreb, localidade embaixadora do andebol balcânico, e o seu precursor foi o técnico Vlado Stenzel nos princípios da década dos anos 60*.

Este sistema defensivo surge possivelmente como resultado da aparecimento de um maior número de jogadores rematadores nas diferentes equipas, e da importância acrescida da primeira linha da equipa adversária, principalmente devido à capacidade de remate falada anteriormente, tentando afastar os jogadores atacantes para zonas menos eficazes, associando aos princípios defensivos de proteção da baliza, recuperação de bola, ao mesmo tempo que reforça o impossibilitar ou dificultar o avanço do adversário à baliza que se defende.

1.2 Conceito Geral e Objetivos

A denominação “Sistema Defensivo 3:2:1”, surge da organização dos jogadores no início do jogo (ainda que a denominação de sistema nunca é sobre a disposição ao inicio do jogo, mas sim sobre o seu funcionamento), onde, segundo Landuré (1984), se observa claramente três linhas defensivas quando o central da equipa contrária tem a posse de bola, três na primeira linha defensiva, dois na segunda linha defensiva e um jogador na terceira linha defensiva.

É um sistema defensivo compacto que pretende afastar os atacantes da primeira linha adversária das suas zonas eficazes, caracterizando-se pela sua profundidade na zona central (mediante a ação do defensor avançado e laterais), ainda que sofra de falta de largura (fig.1).

Fig.1 – Profundidade na zona central e falta de largura do sistema 3:2:1

Para que isso aconteça, a colaboração entre jogadores da zona central, permite que se estabeleça o princípio fundamental da atividade tática coletiva defensiva de criar superioridade numérica na zona da bola. As responsabilidades e tarefas específicas de cada jogador solicitam um espirito de colaboração e o respeito constante do princípio de ajuda defensiva, limitando ao máximo a penetração de jogadores sem bola, exigindo em simultâneo uma grande mobilidade defensiva para dificultar a circulação de bola e jogadores. Ainda segundo Antón., J. (2002), apresenta-se como uma sistema equilibrado, resultado da sua profundidade e espessura, pois apesar do seu ponto fraco (largura), é ajudado por outros parâmetros. Apresenta também uma certa espetacularidade, que advém da agressividade e dinâmica dos jogadores que jogam permanentemente em antecipação, apesar dos seus movimentos serem precisos e perfeitamente estruturados.

A designação de 3:2:1 é também referente à distinção dos três grupos de jogadores que funcionam com tarefas e deslocamentos semelhantes no interior do sistema. O primeiro subgrupo (3 elementos) que estão mais próximos da baliza, cujos deslocamentos são predominantemente laterais e procuram impedir penetrações e remates da segunda linha atacante. O segundo subgrupo (2 elementos na segunda linha), utiliza deslocamentos rápidos em profundidade para impedir remates à distância, e por fim o jogador na terceira linha que se opõe a remates à distância e corta linhas de passe da primeira linha atacante para a segunda linha (pivot), assim como penetrações para o interior do sistema.

Hasanefendic, (1986), chamava-lhe a defesa universal pela flexibilidade em adaptar-se às variantes do ataque adversário, pois apresentava características de funcionamento de defesas zonais, mistas e individuais. Mais tarde Landuré (1989), concluiu que estas distintas formas de atuação, dependiam das circunstâncias e do momento concreto do jogo.

Assim, segundo Antón., J (2002), os objetivos fundamentais são:

1. Assegurar o triângulo defensivo (cobertura) e criação de superioridade numérica defensiva na zona central.

2. Fechar o interior do sistema defensivo, onde adquire grande importância o trabalho e a ação constante dos braços com movimentos dissuasores, o uso do tronco nas mudanças constantes de orientações para enfrentar o adversário de forma frontal, permitindo bloquear ou retardar penetrações, assim como dificultar passes para o interior do sistema, descentralizando o jogo atacante para os lados.

3. Tentar esporadicamente a interceção de bola na zona central, ou em último caso atrasar o jogo atacante através da dissuasão.

4. Permitir e facilitar que a bola chegue às extremidades, para que depois dificulte a circulação de bola para as zonas centrais.

5. Impedir que o adversário remate, especialmente da primeira linha atacante, realizando permanentemente antecipações e saídas profundas.

6. Evitar ser ultrapassado pelo adversário direto, sobretudo próximo da linha de 6m, uma vez que permite ajudas, e se assim não for, que seja para zonas exteriores do campo, com pouco ângulo de remate.

1.3 Princípios Fundamentais de Funcionamento

 A Valorização da profundidade e espessura no centro da defesa.

 Manutenção do dinamismo e atividade constante.

 Sustentação de um alto nível de espirito coletivo.

 Criação de condições de superioridade numérica na zona da bola (a cobertura adquire a categoria de princípio).

 Provocação de situações desconfortáveis à circulação de bola e jogadores atacantes, “obrigando” a bola a ir para os lados.

 Domínio do jogo 1 contra 1 em todos os postos defensivos.

1.4 ESTRUTURA DE DISTRIBUIÇÃO E LOCALIZAÇÃO INICIAL DOS JOGADORES

Segundo Prudente (1983), a dimensão de profundidade depende sempre do funcionamento que se pretenda com maior ou menor grau de antecipação, derivado sempre da representação perigosa do atacante, sendo difícil de entender que uma defesa 3:2:1 apresente uma profundidade menor da que apresentada no inicio da partida (fig2).

Como se vê na figura e como base a baliza, contamos as linhas, 1º linha defensiva (jogadores 2,3,4),situados na linha de 6m, 2ª linha defensiva (jogadores 5,6), situados aproximadamente à volta dos 7,5m, e por fim 3ª linha defensiva (jogador 7), que situa aproximadamente entre os 9/10m.

Fig.2 - Colocação inicial das linhas de jogos e postos específicos: dimensão de profundidade

1.5 DENOMINAÇÃO E NUMERAÇÃO DOS POSTOS ESPECIFICOS

Segundo Antón, J., (1993), a simbologia que representa as defesas são os triângulos, assim como a contagem dos defesas deve começar pelo número dois e pela primeira linha defensiva da esquerda para a direita.

Quanto à terminologia adotada, chamam-lhes exteriores, defesa central, intermédios e avançado. Hasanefendic (1986), laterais e central às duas primeiras linhas, médios à segunda linha e avançado à terceira linha. Nós escolhemos a terminologia original, utilizada por Kandija e Ribeiro, sendo o seu precursor Stenzel também utilizara. Assim a denominação será:

 Jogadores 2,3,4 formam a primeira linha.

 Jogadores 5 e 6 a segunda linha.

 Jogador 7 a terceira linha.

Fig. 3 – Terminologia e simbologia específica do sistema defensivo 3:2:1

As denominações segundo Antón, J, seria:

 Número 2: Exterior Esquerdo.

 Número 3: Defesa Central.

 Número 4: Exterior Direito.

 Número 5: Médio Esquerdo.

 Número 6: Médio Direito.

 Número 7: Avançado.

Conforme a figura 3 indica, a denominação apresentada é específica e característica deste sistema defensivo.

1.6 CARACTERISTICAS GERAIS DO SISTEMA

Distinguiremos apenas as características que mais se evidenciam do sistema defensivo 3:2:1.

Ø Na sua essência é uma defesa zonal, que funciona coletivamente como um bloco compacto em função da situação da bola em cada momento do jogo, apresentando situações aparentes de defesa individual, como exemplo, quando o central marca o pivô na zona da bola quando o lateral encontra-se em posse de bola e a defesa é muito profunda.

Ø A defesa 3:2:1, caracteriza-se por um bloco defensivo compacto, e pela luta defensiva de cada jogador integrante do sistema, de tal modo que as faltas de 9m são frequentes, não deixando a equipa sequer que a equipa adversária circule a bola, mostrando aqui um indício do êxito defensivo.

Ø É o único sistema defensivo que com frequência jogadores de distintas linhas defensivas, marcam o mesmo atacante em simultâneo, um à distância e outro em proximidade (fig4).

Fig.4 – Responsabilidade simultânea do mesmo adversário por parte do médio e central.

Ø É uma defesa reativa (reage perante o jogo ofensivo exibido), mas também ativa (implica iniciativas defensivas), como a antecipação e a pressão constante sobre os adversários, procurando a recuperação da bola.

Ø A disposição dos jogadores defensivos, permite uma perceção visual ampla, levando os jogadores a uma observação rápida de todos os elementos de jogo. Pois Landuré (1984) afirmava que quando certos aspetos de jogo são previsíveis, uma parte da atividade necessária na execução motora poderá ser realizada antes que surja algum indício significativo.

Ø O princípio de jogo coletivo defensivo de criar superioridade numérica na zona da bola, manifesta se de forma mais evidente do que qualquer sistema defensivo, devido à concentração do bloco coletivo sobre a situação da bola.

Ø É uma defesa agressiva que se caracteriza pela combatividade permanente (Prokrajac, 1985, Hasanefendic, 1986, Prudente 1989). Prokrajac (1985) afirmava que só uma grande agressividade dos defensores, aliada a uma boa condição física é o que permite antecipar-se aos atacantes até aos 12 ou 13 metros de forma permanente.

Ø Perante cada jogador atacante de primeira linha com bola se colocam em todo o momento três jogadores da equipa defensora na linha de tiro (dois defensores e o guarda redes).

Ø Requer uma grande mobilidade coletiva que permita um alto desempenho de colaboração. Esta mobilidade quando manifestada, surge o princípio de ajuda mutua com uma sincronização ótima.

Ø Para surgir esta mobilidade de que falamos permanente, adquire uma grande importância os deslocamentos corporais do defensor, quer a nível global como segmentário. Uma permanente atividade dos braços que permita dissuadir passes tanto para o exterior como interior, assim como para interceções de bola. Os deslocamentos em corrida para os jogadores da 2ª e 3ª linha e os deslocamentos laterais para a 1ª linha. A velocidade de reação para o defesa avançado tentar antecipar-se ao recetor de bola de modo que consiga chegar ao mesmo tempo que a bola (intercetar). Os deslocamentos laterais utilizam-se em espaços curtos para permitir manter o equilíbrio corporal assim como dissuadir passes e controlar o jogador que mantém a posse de bola.

Ø As situações de um contra um, em zonas afastadas da baliza, é uma consequência da antecipação sobre os jogadores da primeira linha da equipa adversária, o que facilita as ajudas quando estes são ultrapassados. Spate (1984), citado por Sichelsmidt, P., (1988), depois de observar os Jogos Olímpicos, refere nas suas conclusões de que uma defesa 3:2:1 que funcione perfeitamente quebra o um contra um de uma forma frustrante para o adversário. E esta conclusão surge não da análise da eficácia do um contra um, mas sim das sucessivas coberturas e ajudas dos companheiros perante as situações de superação.

Ø Por fim, a característica mais primordial é a flexibilidade de adaptação às distintas formas de jogo da equipa adversária. Atualmente o jogo ofensivo permite tantas combinações, que exige que uma defesa seja eficaz não só em zonas afastadas da baliza mas também perto desta. Por isto importa referir que Kandija (1988), diz que o sistema defensivo 3:2:1, não pode impedir na sua conceção de base todas as formas de ataque, mas é suficientemente flexível para adaptar-se e está aberto a surpresas para o adversário.

2.CAPITULO FUNCIONAMENTO GERAL DO SISTEMA

2.1 DELIMITAÇÃO DE RESPONSABILIDADES ESPACIAIS, POSIÇÕES E DESLOCAMENTOS POR POSTOS ESPECIFICOS

2.1.1 CENTRAL

O defesa central, na sua atividade global não implica marcações de proximidade a adversário com bola, exceto situações em que o pivô recebe a bola ou situações de ajuda inesperadas. A sua importância revela-se na colocação permanente da linha de remate de cada jogador que possua a bola. Tem uma amplitude de deslocamento delimitada pelo espaço de separação entre o exterior esquerdo e o exterior direito. Isto significa um deslocamento em largura aproximadamente entre os 10,5 metros na sua máxima extensão. Em contrapartida a sua profundidade é muito reduzida, ficando quase sempre pela zona dos 6 metros (fig.5).

Fig. 5 – Posições, orientações e deslocamentos do central

2.1.2 EXTERIORES

A sua posição base será a da técnica defensiva geral, exceto quando o pivô se encontra no seu espaço e o seu adversário direto tenha a posse de bola, pois terá que colocar os braços de forma a dissuadir o passe. A sua orientação varia mediante se o adversário direto tem posse de bola (coloca-se perpendicular à linha de 6 metros, impedindo a sua penetração) se a bola está na posse de adversários próximos (coloca-se simétrico à linha de 6 metros, de costas para a baliza), ou se a bola está no extremo oposto (poderá colocar-se de frente para a sua baliza, observando a bola, predisposto para reagir a um passe do outro extremo). Os seus deslocamentos são predominantemente laterais, exceto no caso anterior relato, que será frontal. (fig.6)

Fig.6 – Posições, orientações e deslocamentos dos exteriores

2.1.3 MEDIOS

Estes jogadores utilizam todo o tipo de posições base, sempre em função da situação da bola e das circunstâncias de jogo. Tem que ser um jogador dotado de uma boa tática individual, pois a sua forma de jogar implica oferecer espaços (pontos fortes ou fracos, zonas baixas ou altas). Quando a bola se encontra no central ou no extremo, a sua posição base poderá ser clássica, estando sempre pronto para a antecipação sobre o seu adversário direto ou preparado para as ajudas aos seus companheiros. A sua profundidade varia perante se o seu adversário direto tem a bola (muito profundo, oferecendo-lhe alguns espaços), ou se o extremo do lado contrário tem a bola, atuando de forma clássica, exceto quando o pivô se encontra no seu lado, que terá que cobrir, tentando com os braços dissuadir ou cortar as linhas de passe existentes. A sua orientação será quase sempre diagonal em relação à baliza, pois terá que manter o princípio da defesa individual presente (manter no seu campo visual bola e adversário direto). Quando o seu adversário direto tem bola, normalmente orienta-se de maneira a dar-lhe os espaços exteriores do campo, mantendo a zona central. Utiliza todo o tipo de deslocamentos (para frente, para trás), quer frontais, quer diagonais. (fig.7)

Fig.7 – Posições, orientações e deslocamentos dos médios

2.1.4 AVANÇADO

O jogador avançado, apesar de ser o jogador mais adiantado, a sua profundidade é menor que a dos médios, pois o seu adversário normalmente não é por excelência um rematador de longa distância. A sua função é de cobertura, de dar ajuda e realizar trocas perante superações dos médios, que raramente desce até à linha de 6 metros. Hansanefendic (1986), define este jogador como um todo o terreno, pois não deve permitir penetrações nem do adversário direto nem dos laterias no seu espaço. Diz ainda que deve ter um grande dinamismo e ser o jogador com melhor capacidade individual, quer técnica quer tática. Neste sistema, juntamente com o central é o jogador chave.

A sua posição base é semelhante à dos médios, pois o seu opositor direto apresenta semelhanças técnicas e táticas às dos laterais (poderá rematar de longa distância, assim como penetrar utilizando fintas ou drible com mudanças de direção).

A sua orientação é quase sempre diagonal em relação à baliza, sempre com apoios assimétricos e adiantado à linha dos médios, com exceção de quando a bola se encontra nos laterais.

Os seus deslocamentos são semelhantes aos dos médios, predominando as diagonais para a frente e para trás, apenas utilizando corrida frontal como o central, quando a bola não passa pelo adversário direto (passe lateral-lateral, ou passe extremo-extremo (fig.8).

Fig.8 – Posições, orientações e deslocamentos do avançado

2.2 OBJETIVOS, MISSÕES E TAREFAS GERAIS E ESPECIFICAS

Partindo dos objetivos gerais do sistema indicados no primeiro capítulo, passamos a explicar as missões genéricas e especificas por linhas de jogo e posto específico.

2.2.1 MISSÕES GERAIS POR LINHA DE JOGO

Ø Primeira linha defensiva; Exteriores e Central

 São os responsáveis pela segunda linha do ataque, procurando evitar a receção de bola por parte do pivô atacante quando este se encontra na zona da bola, assim como as penetrações dos exteriores com e sem bola.

 Colaboração com médios e avançado, quando estes são superados para o exterior, assim como realização de bloco (normalmente o central).

Ø Segunda e Terceira linha defensiva; Médios e Avançado

 São estes que mantêm a profundidade defensiva, assim como os responsáveis por impedir os remates de longa distância, quer dos laterais quer do central adversário.

 Devem dificultar ao máximo a comunicação entre as primeiras linhas adversárias, assim como com o pivô e ainda a circulação de jogadores para o interior do sistema.

 Colaboração na marcação aos pivôs, quando a bola se encontra longe da sua área de ação, tornando-se imprescindível quando a equipa adversária coloca dois pivôs.

2.2.2 TAREFAS ESPECIFICAS POR POSTO ESPECIFICO

Ø Central:

 Seja qual for o jogador da primeira linha da equipa adversária, deve manter-se sempre na linha de remate entre o adversário e a baliza, independentemente da colocação do pivô. Ainda que a sua missão não seja marcar o pivô de forma permanente, a sua colocação na linha de remate, não coloca-lo longe da posição do pivô, exigindo uma grande capacidade tática de observação do jogo atacante.

 Terá que ser um especialista em marcação de proximidade pois marca o pivô sempre que este estiver na proximidade da linha de remate, tentando evitar que este receba a bola, assim como ser especialista na dissuasão de passes e interceções.

  • · É o principal jogador nas ajudas à distância, sempre que existe um remate na primeira linha atacante, com ou sem superação do colega, pelo que deve ser também o melhor jogador da equipa a realizar blocos.

 É o responsável nas ajudas aos médios e exteriores quando estes são superados pelo lado exterior, quer através da marcação de proximidade (ajuda ao médio), assim como no caso do exterior, deve ajudar o guarda-redes, cobrindo o angulo longo através do bloco saltando para o interior da área.

 Nos casos de bloqueio do pivô aos jogadores da segunda e terceira linha, este não deve defender de forma tradicional (acompanhando o pivô na sua saída), mas sim marca-lo à distância e através de informação verbal ao companheiro, este evite o bloqueio e assim avance na marcação ao seu adversário direto. Qualquer abandono da linha dos 6 metros por parte do central, dadas as características do sistema, criaria um espaço defensivo livre com zonas muito favoráveis para o remate assim como para penetrações de qualquer outro jogador.

 A situação esporádica para um possível abandono do central da linha de 6 metros poderá verificar-se se o pivô da equipa adversária possuir um bom jogo entre linhas. Então nesta situação poderá procurar através de saídas explosivas a interceção, ou procurar para naquela situação o ataque.

 Por isto tudo, poderemos afirmar que se trata de um jogador livre sem adversário direto fixo, sendo mesmo denominado libero por Feddern (1984). Na verdade, dado a sua localização, e com maior campo visual, é o jogador chave na informação verbal aos seus companheiros de equipa.

Ø EXTERIORES

 Quando o seu adversário direto tem bola, este deve evitar penetrações e remates. Segundo Ribeiro, 1989; Hasanefendic, 1985) deve marcar o seu adversário direto à distância (adversário com maior envergadura), ou aproximar-se e pressioná-lo (adversário com menor envergadura), mas nunca sistematicamente.

 Neste sistema defensivo, nunca deve abandonar a linha de 6 metros para realizar uma marcação de proximidade quando na sua zona se encontra o pivô.

 Em todo o caso, se o médio é ultrapassado pelo lado exterior, este deve realizar um deslocamento falso (falsa ajuda) e recuperar a sua posição, tentando dissuadir ou até mesmo intercetar o passe (fig.9).

Fig.9 – Ação de finta do exterior, dando a falsa indicação de ajuda sobre o médio quando este é superado

  • · Quando a equipa adversária joga com dois pivôs e a bola encontra-se no central, deve marcar o pivô, sem abandonar a zona exterior, podendo dissuadir o passe ou até mesmo intercetá-lo (fig. 10).

Fig.10 – Ação de marcação ao pivô pela zona exterior quando a bola se encontra no central

  • · Uma das situações mais perigosa é a inversão do sentido da circulação de bola depois do passe do extremo ao lateral, voltar novamente ao extremo, pois pode apanhar o exterior deslocado do espaço devido ajuda na marcação ao pivô. Para que esta situação não aconteça, o basculação só deve ser efetuada quando a bola sai da mão do lateral em direção ao central (fig.11).

Fig.11 – Para evitar o perigo da inversão do sentido da circulação de bola entre lateral-extremo, deve esperar que a bola saia da mão do lateral.

Ø MÉDIOS

 São responsáveis pela marcação de proximidade aos seus adversários diretos com bola (laterais), evitando o remate, fintas e penetrações. Se a atuação for em profundidade e antecipação, a questão do remate não se coloca, uma vez que os laterais encontram-se em zonas desfavoráveis ao remate.

 Prestam cobertura e ajuda defensiva ao avançado em caso de superação pela sua zona, evitando que a circulação de bola continue, recorrendo à falta para que não provoque superioridade numérica. Deverá possuir qualidade nas execuções de fintas defensivas, para poder criar dúvidas no jogador com bola.

 Quando o extremo tem bola, Antón., J., (2002) afirma que este deve baixar até aos 7,5 a 8 metros, mantendo a bola e o seu adversário direto no seu campo visual. Se o extremo realizar uma penetração para o interior, o modo de atuação deve ser semelhante ao executado quando o avançado é superado.

 Quando a bola se encontra no lado contrário, este deve baixar até aos 6 metros (se o pivô estiver na sua zona), marcando-o. Coloca-se nos 7,5 metros e orientado na diagonal em relação à baliza se o pivô se encontrar na zona da bola. O seu adiantamento poderia provocar uma eventual circulação do extremo, podendo circular sem dificuldade, criando problemas para a defesa.

  • · Utiliza bloqueios defensivos sempre que exista penetrações sem bola por parte do seu adversário direto ou de qualquer outro jogador atacante que entre na sua zona.

 No caso do médio contrário ser superado pelo interior e o avançado perder a linha de remate do seu adversário direto, este deve atuar sobre o central da equipa atacante, tentando intercetar o passe ou provocando uma falta que interromperia a superioridade numérica gerada na falha anterior.

 Por último é responsável por trocas de adversário com o avançado quando se realizam cruzamentos, cortinas ou permutas na primeira linha.

Ø AVANÇADO

 A sua tarefa principal é a marcação ao central atacante, que deverá ser de proximidade. Esta tarefa tem como objetivo tentar interromper a circulação de bola, seja através da dissuasão do passe ou da interceção, mas de forma esporádica, pois poderia quebrar a dinâmica coletiva defensiva.

 A cobertura deve ser realizada aos médios pelo interior, assim como as ajudas em caso de superação dos médios no um contra um, interrompendo a circulação de bola.

 Caso a superação pelos médios seja pelo exterior, na zona do pivô, este deve baixar o suficiente para impedir o passe do lateral ao pivô. Esta situação é a única que obriga o avançado a deslocar-se até à linha de 6 metros.

 O avançado terá o mesmo modo de atuação que os médios, quando um companheiro não vizinho é superado, ou seja, atacando o seu impar.

 Quando um dos laterais tem posse de bola, o avançado deve cortar linhas de passe na diagonal para o pivô.

 Quando a primeira linha tenta penetrar sem bola, entre este e os médios, este tentará fechar o corredor juntamente com o médio correspondente, cortando trajetórias.

 Assim como o médio deverá ser bom a realizar trocas com os médios, quando ocorrem cruzamentos, cortinas ou permutas.

 Quando existe um remate à baliza, deverá ser o primeiro a sair para contra ataque, não esperando o resultado do remate.

 Se a equipa atacante atuar com dois pivôs, e quisermos manter a estrutura do sistema defensivo 3:2:1, o avançado deve atuar como livre sobre as linhas de passe lateral pivô mais distantes.

3. Conclusões

Como qualquer outro modelo defensivo (6:0;5:1;3:3), este também reúne importantes vantagens, assim como desvantagens. Apresenta particularidades que podem e devem ser usadas mediante o estudo que se efetua das equipas adversárias.

O sistema defensivo 3:2:1, é um sistema que garante grande estabilidade frente à mobilidade do ataque adversário, o número de tarefas específicas a cumprir é diminuto, o que facilita o automatismo dos deslocamentos, implicando uma solicitação mental menor do ponto vista tático, facilitando a sua aprendizagem. Outra grande vantagem deste sistema defensivo é a constante antecipação o que não permite desenvolver um jogo contínuo e sistemático ao ataque. A sua disposição no campo, permite uma perceção imediata da recuperação de bola, facilitando a saída rápida para contra-ataque. As trocas de adversários são menor que nos outros sistemas (o central nunca realiza trocas com médios e avançado), o que diminui os problemas de emparelhamento e responsabilidades. Pode-se desenvolver contra qualquer sistema ofensivo, realizando as adaptações adequadas, tendo obviamente maior impacto contra equipas em que a primeira linha é claramente superior à segunda linha.

Apesar de este sistema defensivo apresentar inúmeras vantagens, como qualquer outro sistema defensivo, denota também desvantagens. Devido ao fato de ser um sistema muito dinâmico com uma grande quantidade de movimentos e deslocamentos, supõe um grande desgaste no plano físico, condicionando a sua eficácia com o desenrolar do jogo. O fato do sistema defensivo 3:2:1 valorizar a profundidade e a espessura, prejudica-se a largura e os extremos poderão encontrar possibilidades de penetração. Permite alguma permeabilidade perante um jogo ofensivo que utilize o jogo entre linhas, assim como a colocação de dois pivôs de forma permanente também trás problemas, na maioria das vezes, alguns especialistas optam mudar de sistemas defensivo.

BIBLIOGRAFIA

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ANTÓN,J., (2004), Análisis evolutivo estrutural y funcional del sistema defensivo 6:0, Grupo Editorial Universitário, Granada.

Hasanefendic. (1986). O sistema defensivo 3:2:1. Sete-Metros

Kandija, V., (1988), Método para o trabalho individual na defesa 3:2:1, Rev. Sete Metros, Pp. 22-28

Landuré, P. (1989), Préparation spécifique au handball, Amphora, París, pp. 90-103.

Prudente, J. (Outubro/Novembro de 1983). A defesa, Os sistemas defensivos 6:0, 5:1 e 3:2:1. Sete Metros, pp. 14-19.

Ribeiro, M. (1999). Metodologia para a organização do comportamento defensivo. Revista Andebol top.

João Araújo

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This entry was posted on 28 de Maio de 2014 by in Joao Araujo and tagged , , , , , , , , , , , .

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